segunda-feira, 7 de setembro de 2015

34.3


DA POSSIBILIDADE DE UMA ILHA

Aproximamo-nos de 1984
Mas também estamos perto de A Possibilidade de Uma Ilha
Dissoluções num ecrã, projecções sem muro
Vidas inteiras sem ninguém se ver
Clonado a nunca envelhecer
Eterno preceito da juventude
Falando entre eras sem tempo
«Sem chão a Terra já só é gás até ao núcleo de ferro fundido?»
Lá dentro, fechado, lá fora, do mundo
Lá sempre, interagindo, só mesmo interagindo...

sábado, 5 de setembro de 2015

Bixente Lizarazu




Um dos melhores defesas esquerdos da história, que ganhou tudo o que havia para ganhar, sobretudo com a sua França e no Bayern de Munique, ele que sendo nativo do país basco francês assim pôde jogar no Athletic Bilbau - clube que como se sabe só aceita bascos - o que o levaria a ser mais tarde ameaçado pela ETA  por jogar "na selecção de um país inimigo", já depois de uma saída pouco pacífica de San Mamés. Ele que, abandonando o futebol em 2006 foi dedicar-se ao Jujitsu brasileiro para logo se sagrar campeão da Europa na modalidade*. Lizarazu também surfa com dedicação, o que não significa que tenha completamente abandonado a sua ligação ao futebol, pelo contrário, parte do seu tempo dedica-o à TF1 como comentador residente. Daí que estive ontem não a mais de dois metros de distância da lenda. Que, como poderia suspeitar, faz da simplicidade, simpatia e modéstia a marca de uma atitude, grande na verdadeira acepção do termo. Eu lá ia escrevendo a crónica para o nosso humilde portal, ele comentava o jogo em directo para a França inteira, salvo as estratosféricas ressalvas e distâncias, salvo ter preferido não perder mais uma vez contra gauleses, e sem o odioso de qualquer luso complexo de inferioridade, verdade é que genuinamente gostei que o grande Lizarazu tivesse saído de Alvalade satisfeito. Foi uma honra tê-lo por perto. Do mais, deu para apanhá-lo perfeitamente: sujeito normalíssimo, sem qualquer átomo de cagança ou afectação, se emanava alguma coisa era decência e boa disposição. Há de ser um simples sobredotado, ou se quiserem a deixa, um simplesmente sobredotado. Também espero que tenha por cá surfado umas boas ondas. Lá boa onda tem ele. 


* - Em Lisboa, pelos vistos dá-se bem por cá.

Precisar

Nunca aprendes, filho. Tudo o que precisas já tens. Teu grande problema - e mete isso na cabeça de uma vez por todas - é essa tua mania de precisar, sobretudo de precisar do que não precisas sequer para precisar. 

Telemóvel...


Michel Houellebecq em O Rapto de Michel Houellebecq.

- Não fazes nada, aborreces-te e alguma coisa vai acabar por acontecer na tua cabeça, as ideias vêm. As palavras vêm do vazio. 
- E consegues criar o vazio?
- Sim, mas tem de se ter as condições certas. Por exemplo, não vais escrever um livro agora porque esperas uma chamada e isso inquieta-te...



ELLA REINA SOBRE TODAS LAS DESTRUCCIONES

Qué me lleva hacia ti.
El sueño que se convierte en pesadilla.
El rumor del mar y de las ratas
En la fábrica abandonada.
Saber que después de todo estás allí, 
En la oscuridad. Sola y con los ojos abiertos.
Como el pájaro leproso, el pájaro cagado
De las historias de terror de nuestra infancia.
Firme. No: ondulante, como las luces
Más allá del bosque, más allá de las dunas.
Las luces de los automóviles
Que toman la curva y luego desaparecen.
Pero tus ojos no son como los ojos
De los conductores. Ellos
Se deslizan plácidamente hacia el hogar
O la muerte. Tú estás fija en la oscuridad:
Sin luces ni promesas. Las ratas velan tu mirada.
Las olas velan tu mirada.
El viento que levanta remolinos en los linderos
Del bosque me llevan hacia ti: apenas
Una señal ininteligible en el camino de los perros. 

Roberto Bolaño, em La Universidad Desconocida, ANAGRAMA - Narrativas hispánicas



A little room on 7th street is getting cold
And secrets sing like mescaline
They don't get old
I saw a pattern on a blanket just the other day
It looked just like the pillow you threw away

terça-feira, 1 de setembro de 2015


OUTRA DIVAGAÇÃO

Onde estão os que o silêncio oculta?
Pergunta ao silêncio, se for a tua hora,
e com seus lábios o silêncio te falará.
Ao silêncio não podes responder-lhe
se não for com o silêncio que tu sabes
onde encontrar. Aí o silêncio habita
e neles estão os que o silêncio ouviram. 

Fernando Ortiz em Poesia Espanhola de Agoratrad. Joaquim Manuel Magalhães, Relógio de Água, 1997